religião e mistério

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No Brasil de hoje fala-se em religião a propósito de política, de leis, de educação, de costumes e o que mais. O novo Ministro do Exterior, segundo dizem, afirmou que pretende trazer Deus de volta ao debate intelectual, ou coisa que o valha.

Respeito as religiões na medida em que estabelecem uma postura de reverência aos mistérios do existir, enquanto buscam e incentivam atitudes adequadas ao nosso profundo desconhecimento de nós mesmos e de tudo que nos cerca, apesar da ciência, que mesmo  com todos os avanços permanece muda e pasma diante da pergunta fundamental da metafísica, “por que existe tudo isso aí e não antes o nada?”.

O problema das religiões, a meu ver, começa quando elas encontram a “verdade”. Iluminadas pela “verdade” que julgam possuir, elas criam as normas de comportamento que o postulado inicial impõe. E aí a situação complica.

Na década de vinte do século passado, um alemão chamado Dry escreveu um livro chamado “Religiões Disfarçadas”, que denunciava os fanatismos da época. O livro trazia um critério simples para diferençar os tipos de religião. “Uma religião de verdade educa por temor ao inexplicável do mundo. Na luz da fé, o mundo se torna maior, também mais obscuro, pois preserva seu mistério, e o ser humano compreende-se como parte disso. Permanece incerto quanto a si mesmo. Para o outro tipo de religião, no entanto, o mundo encolhe. O fiel encontra em tudo e em cada coisa apenas a confirmação da sua opinião, que defende com o ardor da fé contra o mundo e contra suas próprias dúvidas”. (Apud Rüdiger Safransky, ‘Heidegger’)

Tenho consciência de que esta maneira de pensar pode ser um tanto espinhosa. Preferir a dúvida à certeza, o obscuro ao evidente, a inquietação ao consolo? O que posso argumentar é que, em geral, as grandes certezas conduzem à intransigência e ao fanatismo, não apenas religioso, enquanto a dúvida suscita a tolerância e o diálogo.