Thomas Mann, uma antiga referência na minha vida

Acabo de escrever um especial para a Record, chamado “O Amor e a Morte”, inspirado em contos de Thomas Mann, e e lembrei de uma entrevista dada  no início da minha carreira em que citei o mestre, com quem já tinha grande afinidade, como se pode constatar. Eis a pergunta do repórter e minha resposta:

– Em Mumu, personagens se referem ao enterro de um autor de teatro, e o autor é justamente você. Por que você se matou na peça?

– Talvez por mera brincadeira, por simples curtição. Mas as brincadeiras têm sempre um sentido oculto, não são tão gratuitas quanto parecem. Já pensei nisso e acho que a resposta está ligada àquela tristeza de que falei. Thomas Mann certa vez disse numa carta ao irmão que a literatura é a morte. Inclusive esse é um tema muito caro a ele. Sinto algo semelhante.  Só resolvi me dedicar mesmo a escrever com 30 anos. E, no entanto, escrever sempre foi sempre algo que quis fazer.  Mas não assumia isso. Resistia ao máximo. As minhas neuroses me impediam de escrever. Mas isso não explica tudo. O caso é que queria viver a minha vida em toda sua plenitude. Não queria falar sobre a vida, queria vivê-la no seu grau mais elevado. E tentava desesperadamente.  Mas há muita coisa no mundo que impede que o homem viva integralmente. Aos 30 anos fui obrigado a constatar que não tinha chegado onde queria, nem nunca ia chegar. A vida, tal como sonhei um dia vivê-la, me estava vedada.  De certa forma foi uma confissão de derrota.  E então só me restou a literatura, só me restou falar sobre o objeto desejado, representá-lo ao invés de possuí-lo. Dessa forma, nada mais apropriado que eu me matar na minha primeira peça, por que de certo modo morri mesmo.

A íntegra da entrevista pode ser lida em : https://marciliomoraes.com.br/entrevista/jornal-do-brasil-caderno-b-a-parabola-quase-absurda-de-marcilio-moraes/