Vidas Opostas – Revista Isto É Gente

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Entrevista Isto É Gente – 9/4/2007

“Bater a Globo é um marco”

É no terceiro andar de sua aconchegante casa na Gávea, no Rio, que o autor Marcílio Moraes se refugia para escrever os capítulos de Vidas Opostas, da Record. Lá, mergulhado no universo da guerra urbana que a trama retrata, ele é constantemente interrompido pelo barulho de tiros na favela da Rocinha, ali perto. “Assim como na novela, favela e asfalto são mundos muito próximos”. Constata. Foi apostando na identificação do público com a realidade das grandes cidade, que Marcílio superou a audiência da Globo no horário nobre. Por três vezes este ano,  sua história bateu os jogos dos campeonatos regionais exibidos pela concorrente. Aos 62 anos, casado com a professora Violeta Quental, pai de três filhos, o escritor amargou dois anos de desemprego ao ser dispensado pela Globo, em 2002. Messe mesmo ano sofreu o segundo enfarte. Para manter a saúde largou o cigarro, diminuiu a bebida e passou a nadar diariamente. Mas, por causa de Vidas Opostas, está longe das piscinas. “Quando se escreve novela, a vida pessoal vai para o espaço.  A compensação é o sucesso”, diz.

Como explica o sucesso de Vidas Opostas?

Acredito que seja uma boa história, uma história de amor, de Cinderela. E está bem armada. O que chamou a atenção do público foi incorporar a favela ao universo ficcional, uma coisa que não faziam. É a questão da estética da exclusão. A economia exclui, a teledramaturgia também. Ao invés de fazermos aquele pobre folclórico, mostramos o pobre que vive totalmente nas favelas.

Sofreu algum tipo de censura pelo fato de a Record pertencer ao bispo Edir Macedo?

Não. Eles sabem separar muito bem o profissional do pessoal. A Record é completamente independente da favela. Isso é um grande acerto. Na Globo também. O grande segredo da Globo foi que o Roberto Marinho nunca teve ideias para novelas.

 Essa novela teria espaço na Globo?

Seria difícil. Pode ser que eu esteja enganado, mas pelo que conheço da Globo depois de 18 anos lá, não seria um projeto aprovado por vários critérios. Critérios escritos e não escritos que existem lá. Se bem que agora, depois do sucesso, poderia até ser.

Esperava todo esse sucesso?

Esperar a gente sempre espera. Mas não imaginava essa repercussão toda. Só achava que iria bem, escrevendo eu sentia que tinha muita força.

Você tinha uma receita?

Se falar isso, vou parecer presunçoso. Mas a receita é a competência de saber fazer e armar uma história. Sabia fazer novela, criar um história com a qual o público se identificasse. Você tem que saber o que está escrevendo porque uma novela custa cerca de US$ 20 milhões, quando ela vai ao ar já gastou uns US$ 10 milhões. Se não der certo, afunda a emissora. É um investimento alto, não se pode errar.

Dá medo?

Sempre dá. Quando a sinopse é aprovada, já começa a movimentação. Contratação de gente, produção, e você lá escrevendo. No terceiro ou quarto capítulo, você se pergunta: será que eu sei? No capítulo sessenta você se pergunta a mesma coisa: será que vai dar certo? Dá um tremendo vazio,  Só depois do centésimo que começa a relaxar. Se for sucesso, é lógico.

Comemorou quando bateu a Globo?

Imagina, se tomo um porre, como vou escrever a novela no dia seguinte? Não tenho tempo para isso, mas teve uma comemoraçãozinha familiar. Tinha que ter, NE?Foi um grande dia, bater a Globo é um marco.

Essa vitória no Ibope tem gosto de revanche?

Não. É uma gratificação profissional de acreditar e dar certo. Meus desentendimentos com a Globo eram profissionais. O que eles queriam que eu fizesse eu não queria fazer. E vice-versa.  Aí foi-se criando um clima ruim que acabou com a não renovação do meu contrato. Eles não topavam minhas propostas e sugeriam remake, para não apostar em coisas novas.A Globo vem se repetindo muito. Não vamos falar de Globo, deixa a globo. A Globo hoje é só um numerozinho no Ibope que eu quero bater.

Quem estava mais insatisfeito: você ou eles?

Os dois. Mas eles que não quiseram renovar. Não sei o motivo. É uma situação complicada. Não houve uma aposta da direção da Globo.

Essa situação o magoava?

Ficava faltando, entendeu? A Globo tem duzentos autores. Mas que façam novela são apenas uns dez. Eu tinha contrato, eles sabiam que eu sabia fazer novela. Eu sei de autores que vivem essa situação na Globo, hoje. Ganham um bom salário, mas não fazem nada. É ruim psicologicamente, desgastante. Dois, três anos nisso e você está de saco cheio.

 O que fez no dois anos em que ficou desempregado?

Dei aulas de roteiro, escrevi uma peça que ainda não foi montada e também o meu primeiro romance, o policial O Crime da Pedra da Gávea, já lançado. A peça também trata desse assunto.

Como cuida da saúde?

Fazendo esportes e não fazendo novela (risos). Quando acabar essa, quero escalar, subir montanha, ficar um ano descansando. Novela quebra a saúde. Tenho preocupação com a saúde, afinal, já tive dois enfartes  e fiz uma angioplastia. Tenho quatro molinhas no coração que me mantêm vivo. Mas foram de dez em dez anos. O primeiro foi em 1992 e o outro em 2002.

Passou a ter algum cuidado especial com a saúde?

Passei a me preocupar com a alimentação. Parei de fumar. Bebida muito e hoje bebo pouco. A velhice torna a gente virtuoso. Ou você morre ou fica virtuoso.

Quais são seus esportes?

Nado porque gosto e preciso. Escalada eu faço há muitos ano, desde menino, em Petrópolis. Adoro subir o Corcovado e o Pão de Açúcar. Por causa da novela, estou parado. Já fiz pára-quedismo, adoraria voltar a saltar. A família é que reclama, acha perigoso.

Segue alguma religião?

Há dez anos, busquei uma espiritualidade para ter alguma resposta para o mistério da vida. Descobri o budismo tibetano, que te dá a noção de impermanência, da transformação. A gente não tem que se apegar a nada, o desapego é a maior sabedoria.

Qual a diferença entre trabalhar na Globo e na Record?

Para imitar o Lula e fazer metáforas de futebol, diria que na Globo você entra no jogo ganhando de quatro a zero. O que você tem que fazer é manter o resultado, se o adversário fizer um gol você está perdido. Na Record, é o contrário. Está perdendo de quatro a zero, qualquer gol que você faça é muito comemorado. Trabalhar num lugar que está começando é sempre mais estimulante, uma cidade nova, um amor novo são sempre muito bons.

Paraíso Tropical não está alcançando a audiência esperada…

Li qualquer coisa que a audiência estava baixa. Novela demora um pouco para emplacar; acho que vai acontecer. Gilberto Braga é um craque.

Com o sucesso de Vidas Opostas, o salário aumentou?

Salário é tabu. Isso é lenda, não aumentou nada.

Se a Globo o chamasse de volta, iria?

Estou muito satisfeito na Record.