Plano Alto – O Estado de São Paulo – Coluna da Cristina Padiglione

Plano Alto merece atenção

Estadão_Cristina Padiglione_1.10.2014

Os meandros do poder político nem sempre têm seus bastidores expostos nos noticiários, até por falta de provas capazes de trazer à tona tudo o que se sabe (ou se desconfia) a respeito dos corredores que nos guiam pelos livros do executivo, legislativo e judiciário, não só no Brasil, mas fora daqui também.

Isso explica a excitação da plateia em torno de séries como House of Cards.

Não que Plano Alto, série que estreou ontem, na Record, esteja no patamar de uma produção como a da Netflix.

Mas, pode apostar, o título está muito acima do padrão Record de teledramaturgia e, de quebra, traz alguns paralelos com o universo de Frank Underwood (Kevin Spacey), deputado do Congresso americano que faz a máquina da Casa Branca girar, até se tornar vice-presidente.

Como lá, o protagonista aqui não é o presidente, mas alguém com forte ligação com o Planalto. Nossa figura central é o governador do Rio, Guido Flores, na pele de Gracindo Jr., então encrencado entre as manifestações populares de junho de 2013.

É sempre um risco reconstituir cenas recentes da história do País, submetidas à memória fresca do público. Mas o desafio foi honrado, pode-se dizer, com sequências muito bem acabadas. O confronto entre estudantes e policiais localiza monumentos do patrimônio público, personagens do enredo ficcional que bem poderiam ter saído da vida real e imagens críveis daquele contexto.

No paralelo com House of Cards, temos Daniela Galli, alguém com evidente função de Claire, a bela e perigosa senhora Underwood. Assim como a loura Robin Wright, a atriz diz a que veio de cabelos curtos e músculos torneados por muita malhação. Estrategicamente, no meio da cena, tira o casaquinho para exibir a silhueta sarada. Bela, flerta com o poder, manipula pessoas a sua volta para ajudar o marido, deputado (Milhem Cortaz), em seus objetivos rumo ao poder.

Os cuidados passam por escalação de elenco, escolha de locações e bom acabamento de edição, acompanhando um texto que, amém, não apresenta todas as tramas mastigadinhas para o consumo da plateia. O enredo de Marcílio Moraes não é obtuso, longe disso. Mas pede o mínimo de atenção de um telespectador cada vez menos habituado a ter de pensar. O autor escolhe caminhos acessíveis para alinhavar suas tramas, mas não óbvios, o que só melhora o produto final.

São 12 capítulos a inspirar o período eleitoral, com exibição de terça a sexta. E a certeza de que ainda há vida útil para a teledramaturgia da TV aberta fora da Globo.

O ibope respondeu com 5 pontos de média, o que não é nenhuma brastemp e também não é ruim.
Melhor 5 pontos abastecidos por uma plateia mais pensante do que 10 ou 12 pontos atraídos por Geraldos e cia.