Lógica da truculência

Fui caminhar na praia do Leblon, no fim da tarde de sábado, e me deparei com a turma que fica em frente ao prédio do Cabral. Devo dizer que me senti incomodado. Que é aquilo? Algumas dezenas de pessoas se julgam no direito de pressionar fisicamente um governador democraticamente eleito, sequestrando a tranquilidade dele e dos seus vizinhos, bem como de quem passa pela Delfim Moreira, para obrigá-lo, pelo constrangimento, a renunciar? Desculpem-me, mas essa é a lógica da truculência, a lógica do Bope, do Capitão Nascimento: pede para sair! Ou pior que isso.

Em post anterior, falei do espírito de cangaceiro que, a meu ver, preside parte da vida nacional. Pois olha ele se manifestando aí, disfarçado de indignação popular. Não estou defendendo o Cabral, não tenho razão nenhuma para fazê-lo. Nunca votei nele. Também não tenho condições de avaliar seu governo, se é bom ou mau. Não é essa a questão. A questão é o princípio democrático, o respeito à lei.

O que posso concluir do que presenciei na Delfim Moreira é que aquelas pessoas acampadas diante da casa do Cabral, ainda que se julguem democratas, progressistas, revolucionárias, restauradoras da moralidade pública ou lá o que pensem, na prática fazem o papel de jagunços, cabras a serviço de algum oculto “coronel”.

Porque obviamente alguém está faturando com o desgaste do Cabral. Digo mais. Se os manifestantes não recebem pelo que fazem, estão bobeando. Basta procurarem os beneficiários dos atos que praticam que serão recompensados.

Quem perde com a presepada é a democracia. Se cada grupo de insatisfeitos resolver derrubar os governantes no pau, estaremos marchando a passo de ganso para o fascismo, ou para o cangaço como forma de governo.