Análise | Teledramaturgia
Balanço 2014: Em crise, telenovelas abrem espaço para séries na TV
Por RAPHAEL SCIRE, em 27/12/2014 · Atualizado às 07h19
O ano de 2014 começou promissor na teledramaturgia com a quebra do tabu do beijo gay, exibido no último capítulo da rocambolesca trama de Walcyr Carrasco, Amor à Vida (Globo). Mas, quem esperava por um ano repleto de histórias de tirar o fôlego, levou um banho de água fria: em geral, as novelas foram marcadas pela irregularidade, e algumas apostas fracassaram, como Em Família. Em crise, as telenovelas abriram espaço para séries e minisséries, como Dupla Identidade e Amores Roubados.
As três novelas exibidas atualmente pela Globo _Boogie Oogie (18h), Alto Astral (19h) e Império (21h)_ são bastante ilustrativas do caráter capenga das produções deste ano. Embora não sejam de todo ruins, Boogie Oogie e Alto Astral sofrem com excessos de clichês da teledramaturgia nacional. Já Império, apesar de ter muitas qualidades, deu uma derrapada ao inserir elementos do universo fantástico em uma trama realista.
Veja a seguir os principais destaques do ano:
Melhor direção: Meu Pedacinho de Chão (Globo)
O remake de Benedito Ruy Barbosa com direção de Luiz Fernando Carvalho foi uma opção ousada e com estética totalmente inovadora que surpreendeu. A novela tinha um certo didatismo no texto que não chegou a comprometer o trabalho final. De quebra, tirou atores marcados por tipos característicos de suas zonas de conforto, como Juliana Paes (Catarina) e Antonio Fagundes (Giácomo). Para o horário das seis, foi uma superprodução com ares artesanais.
Melhor texto: Pecado Mortal (Record)
Na comparação com outras produções, Pecado Mortal, que marcou a estreia de Carlos Lombardi na Record, pode não ter sido um estouro de audiência, mas em termos folhetinescos, destacou-se pelo excelente texto e por uma direção ágil. Teve a melhor história de 2014.
Melhor microssérie: Amores Roubados (Globo)
A série bem cuidada estreou na esteira da polêmica envolvendo a vida pessoal de seus protagonistas, Cauã Reymond (Leandro) e Isis Valverde (Antônia), e mostrou-se uma trama bem escrita, dirigida e fotografada, com destaque para interpretações convincentes, como a de Cássia Kis Magro (Carolina).
Melhor especial: Eu que Amo Tanto (Globo)
Outra grata surpresa foi a série Eu que Amo Tanto, exibida no Fantástico. Atrizes tarimbadas deram o tom da produção, especialmente Susana Vieira e Marjorie Estiano. A segunda, depois de uma participação na primeira fase de Império, como a vilã Cora (agora de volta à novela), mostrou-se segura, versátil e intensa nos dois trabalhos.
Melhores séries: Dupla Identidade (Globo) e Plano Alto (Record)
Destaque imediato para Dupla Identidade, de Gloria Perez. Bem pesquisada e escrita, a série foi marcada pelo suspense psicológico e por um quê macabro. Trouxe, ainda, Bruno Gagliasso como Edu, em seu melhor momento na televisão. Na Record, o grande trunfo foi a trama política de Marcílio Moraes, Plano Alto. Sem didatismos, o texto não fez concessões para uma maior compreensão. A série conquistou uma pequena parcela de público, mas mesmo assim garantiu uma segunda temporada.