Tenho ouvido falar que determinadas obras da nossa TV fogem do Maniqueísmo porque seus personagens não são inteiramente bons nem maus.

Vão me desculpar, mas não vejo assim a questão. O Maniqueísmo  (do profeta persa Maniqueu) é a crença num sistema cósmico que opõe o reino da luz, o Bem, ao reino das trevas, o Mal. O Mal é um princípio formador do cosmos tanto quanto o Bem, ao qual se opõe. Do conflito entre os dois princípios é que surge o universo. Caberia ao homem colocar-se ao lado do Bem nessa luta titânica para derrotar o Mal.

Ou seja, o que caracteriza o Maniqueísmo numa obra de ficção não é o fato de ser constituída de personagens ou inteiramente bons ou inteiramente maus. Os personagens podem circular entre os dois polos, ora aderindo a um ora a outro, sem que a obra deixe de ser maniqueísta. O que caracteriza o Maniqueísmo é a concepção dramatúrgica construída sobre o conflito Bem x Mal, cuja existência é anterior e está acima dos personagens.

O que define uma obra não maniqueísta é assentar-se sobre os conflitos de interesses concretos entre os personagens, sem que paire sobre eles o julgamento de estarem do lado do Bem ou do Mal. Neste caso temos uma obra de estrutura complexa.