Parlamento: proibir a reeleição?

 

 

constituinte

 

De vez em quando, surgem campanhas visando criar legislação que impeça a reeleição de deputados e senadores, com o argumento de que é a falta de alternância que gera os desvios que vemos frequentemente, como se oportunismo e corrupção fossem se entranhando nos parlamentares ao modo de uma tendinite moral, fruto de excessivas sessões, discursos, conchavos e campanhas. Quanto mais reeleições, pior ficaria o político. Por outro lado, uma câmara composta apenas de novatos se beneficiará da pureza ética que supostamente caracteriza os neófitos. O partido a que o cara pertence, suas ideias, seus princípios, isso não é relevante. Não pode é se contaminar com um segundo mandato.

 

Nada mais ingênuo e perigoso em política do que teorias como esta. Para começar, são antidemocráticas. O eleitor deve escolher o representante que quiser, uma, duas, quantas vezes quiser. Democracia representativa parte de um princípio simples, “exercício do poder político pela população através dos seus representantes”, mas é bastante complexa no seu funcionamento. Fazer leis fundamentadas na realidade e nos interesses do país, avaliar seu alcance e consequências é uma tarefa árdua, que exige cultura jurídica e histórica, alem de experiência política. Um político que desembarca no Congresso pela primeira vez dificilmente vai dar conta das dificuldades. Só para entender o (necessário) regimento interno, leva meses.

 

Que aconteceria com uma empresa ou instituição que demitisse seus funcionários assim que adquirissem experiência, com medo de que o maior conhecimento dos mecanismos de administração os levaria a praticar falcatruas? Seriam tocadas eternamente por aprendizes? Existe alguém mais manipulável que um aprendiz?

 

O Congresso que aí está foi eleito pelo povo brasileiro, logo, tem a sua cara. Ao invés de pregar platitudes como proibir a reeleição de parlamentares, o importante é convencer os eleitores a, antes de tudo, adquirirem espírito crítico. E isso se consegue através de informação, lendo jornais, livros, assistindo e participando de debates, acompanhando o desempenho dos eleitos.  As reuniões plenárias do Congresso Nacional, os debates nas comissões, etc, são transmitidos ao vivo pela TV Câmara e pela TV Senado. Qualquer um pode espiar.

 

Quem é bem informado, quem pensa com a própria cabeça não cai na conversa de demagogos, enganadores e falastrões.