Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA. E o autor, na tv?

Quem encara a página em branco? Este é o autor.
O que chama a atenção na lista divulgada pela APCA, no que respeita à televisão, é que não há referência a nenhum autor-roteirista. Parece que os escritores foram simplesmente ignorados. Há prêmios para “diretor”, Villamarin; para “ator”, Irandhir Santos, etc, e nenhum para autor. Talvez se possa incluir o autor-roteirista na categoria “dramaturgia”. Seria interessante que a APCA explicitasse o que entende por “dramaturgia”.
O Dicionário Houaiss, para tomar uma referência genérica, não especializada, define “dramaturgia” como “arte ou técnica de escrever e representar peças de teatro” ou, numa segunda acepção, “a totalidade de recursos técnicos, mais ou menos específicos, de tal arte”. Se julgarmos que a APCA se baseia nesta acepção, então o prêmio foi para todos os envolvidos na elaboração da obra, tomados coletivamente, o que equivale a dizer que o premiado, na verdade, foi o produtor, a TV Globo. Será isso? Aí, sendo um prêmio coletivo, pode-se supor que o autor-roteirista, na sua indigência, também teve “a parte que lhe cabia neste latifúndio”. Mas se assim foi, o diretor, o ator e a atriz foram então premiados duas vezes.
De qualquer jeito, não se pode negar que a inexistência de um prêmio específico para o texto, para o autor-roteirista, enfim, para o dramaturgo, por parte da APCA, talvez a mais prestigiada entidade de críticos do Brasil, significa um tremendo desprestígio para os escritores de televisão.
Note-se que este movimento vai na direção oposta do que acontece internacionalmente, onde a figura do autor-roteirista na TV vem sendo reconhecida como decisiva para o sucesso das séries dramatúrgicas.
A série “Amores Roubados”, que recebeu o prêmio de “dramaturgia”, teve muito texto escrito antes de se tornar obra audiovisual. O roteiro é de Sérgio Moura e seus colaboradores, com supervisão da Maria Adelaide, inspirado no romance “A emparedada da rua nova”, do escritor pernambucano Carneiro Vilela.
Nenhum deles, que verdadeiramente encararam a página em branco, é citado. Brasil.pagina_br