Reflexão sobre o documento lançado pelo PT

 

lenindesenterrado

Tive a pachorra de ler o documento lançado pelo Partido dos Trabalhadores na semana passada, chamado “Resolução Sobre Conjuntura”. Com o perdão dos militantes, foi uma viagem ao passado. Como passei boa parte da juventude lendo materiais de partidos clandestinos de esquerda, tive a sensação reencontrar o velho estilo “revolucionário”, um tanto amenizado.

Achei interessante fazer uma rápida reflexão, sem quaisquer pretensões, mais para mim mesmo, mas que partilho com os amigos.

Para começar, há sempre uma verdade oculta, e nada lisonjeira, por trás dos fatos. Por exemplo, tudo o que vimos nas últimas semanas no cenário político – discussões no congresso, decisões judiciais, discursos, contraditas, prisão de empresários, políticos, etc –  foi apenas aparência. Na essência, o que aconteceu foi que “as classes dominantes impuseram o afastamento provisório da presidenta Dilma Roussef”, com o  objetivo da “submissão do país aos interesses das grandes corporações financeiras internacionais.” Mesmo a Lava Jato, que tanto orgulho e esperança trouxe às pessoas, é assim descrita:  “A Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista.”

Estratégia e tática

Na leitura desses documentos, me acostumei a procurar os objetivos estratégicos e as táticas propostas pela organização. Para quem não está acostumado, a estratégia se refere ao longo prazo, ao que se quer chegar, no caso de um partido, ao poder que pretende exercer; e a tática são os movimentos planejados para chegar lá.

Pois bem, identifiquei alguns objetivos estratégicos. Está lá: “…a hegemonia dos trabalhadores no Estado e na sociedade não depende exclusiva ou principalmente de administrações bem-sucedidas, mas da concentração de todos os fatores na construção de uma força política, social e cultural capaz de dirigir e transformar o país.”

E também: “Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação.”

Se tivessem alcançado esses objetivos, desconfio que hoje teríamos um regime parecido com o da Venezuela. Ou estou enganado?

Sobre os escândalos de corrupção que atingiram o partido, o documento simplesmente bota a culpa nos outros. Ou me engano na leitura? Vejam aí: “Também fomos contaminados pelo financiamento empresarial de campanhas, estrutura celular de como as classes dominantes se articulam com o Estado…”

Finalmente, os comandos táticos são bastante explícitos: “O centro tático para este novo período — sob a palavra de ordem “Não ao golpe, fora Temer” –, deve ser a derrocada do governo ilegítimo que usurpou o poder e rompeu o pacto democrático da Constituição de 1988. Devemos combinar todos os tipos de ação massiva e combate parlamentar para inviabilizar suas medidas antipopulares, denunciar seu caráter ilegal e impedir sua consolidação no comando do Estado. Assume grande relevância ainda a continuidade da ação de articulações internacionais, que no último período já foram fundamentais para a denúncia do golpe em curso.”

E mais: “Não reconhecemos o governo ilegítimo de Temer. Contra ele faremos total oposição e lutaremos até o fim nas ruas e nas instituições para derrotá-lo. Não há oposição moderada ou conciliação possível com um governo resultado de um golpe.”

A mim, parece bem claro. O que está proposto é o confronto, a luta sem tréguas com o objetivo de alguma coisa parecida com uma insurreição. Uma perspectiva, a meu ver, muito perigosa. Sugiro que os amigos leiam o documento e tirem suas próprias conclusões. O link é: http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolu—-es-sobre-conjuntura-Maio-2016.pdf