A Grande Família – Jornal O Globo / Segundo Caderno

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A família volta unida

No dia 9 de outubro (data prevista), a TV Globo vai acionar uma máquina de teletransporte que possibilitará ao espectador uma rápida volta ao passado. Um dos núcleos de produção da emissora,  a Executiva I, dirigida por Paulo Afonso Grisolli, levará ao ar o especial que retoma a primeira comédia de costumes  da televisão brasileira: “A grande família”, seriado que retratava o cotidiano de uma família classe média.

O programa cativou os telespectadores de 1973 a 1975, quando saiu do ar. Segundo Grisolli, “A grande família” reaparecerá com uma nova roupagem, mas  será mantida a filosofia dos personagens e os atores que os representam.  Lineu (Jorge Dória), Nenê (Heloísa Mafalda), Tuco (Luiz Armando Queiróz), Júnior (Osmar Prado), Bebel (Maria Cristina Nunes) e Floriano (Brandão Filho) voltam mais velhos e com os problemas existenciais triplicados. A única substituição é a entrada de Nuno Leal Maia no lugar de Paulo Araújo, como Agostinho, o marido de Bebel.

O renascimento do programa, segundo Grisolli, surgiu da necessidade de a Executiva I realizar um especial para o mês de outubro. Ele dirigiu o programa na sua segunda fase, quando Oduvaldo Viana Filho – com a colaboração de Armando Costa e Paulo Pontes – foi chamado por Daniel Filho para substituir Marcos Freire e Max Nunes, responsáveis pelo texto.

Na época, a direção do seriado era do ator Milton Gonçalves. A mudança ocorreu porque a direção da Globo optou por dar formas tupiniquins à “Grande família”, que nasceu indecisa e apoiada nas características do programa americano chamado “All is the family”. A série cresceu a partir do momento em que foi transformada numa comédia de costumes, a primeira da televisão a se aproximar do humor realista, distante das chanchadas, piadas e caricaturas.

“A grande família” – o primeiro episódio a ir ao ar foi transmitido ao vivo – batia altos índices de audiência e era considerada imperdível. Todas as quintas-feiras à noite, o país parava para ver na tela a cópia fiel de uma família classe média, com a qual podia compartilhar das mesmas ansiedades, tais como: salário achatado, insolvências generalizadas, falta de perspectivas de vida, entre outras provocadas pelo momento político que marcou a década de 70. Esse quadro era passado sutilmente através dos textos de Vi aninha, e posteriormente de Paulo Fontes e Armando Costa.  O novo programa, segundo Grisolli, será dedicado a eles.

A série saiu do ar em 1975, logo depois de passar a ser transmitida em cores, Na época, Edvaldo Pacote, então assistente da Superintendência, de Produção e Programação da Globo, justificou a saída da “Grande família”alegando o seguinte:

“A série entrou em crise desde a morte do Vianinha. A equipe que a produzia não se refez do abalo emocional pela perda do companheiro, e Paulo Pontes, que o substituiu como redator principal, terminou por concluir que não se achava em condições psicológicas de continuar a tarefa. E também não dispomos de espaço em nossos estúdios, no momento, para produzir regularmente a novela das 18h30m e “A grande família”. A explicação foi publicada na coluna da Arthur da Távola, no dia 14 de março de 1975.

Para escrever o especial, Paulo Afonso Grisolli convidou o novelista Marcílio de Moraes: “ele é a grande revelação dos últimos tempos”, ressalta. Grisolli queria mostrar o que aconteceu com os personagens nesses doze anos. Para isso, requisitou os trabalhos  da pesquisadora Marília Garcia, que reviu os sete únicos programas existentes.  O rumo que foi dado a cada um foi inspirado na vida de amigos de Grisolli, Marcílio e Marília.  Segundo Marcílio, não existiu nenhuma dificuldade na criação da nova história, pois “os personagens já existiam”.