Sonho Meu – Jornal O Globo / Revista da TV

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Jornal O Globo – Domingo, 19 de setembro de 1993

Jogo de interesses e desencontros amorosos em ‘Sonho meu’

Lágrimas do passado para garantir emoção

“Sonho meu”, a próxima novela das 18h da Rede Globo, estréia daqui a duas semanas com alguns desafios: manter a audiência conseguida com “Mulheres de areia”, repetir o sucesso do par romântico Santinha (Patrícia França) e Coronelzinho (Leonardo Vieira) e entreter o público com conhecidos dramas infantis. De novidade, há o cenário: Curitiba.

Entre mais de 50 concorrentes, escolher a protagonista-mirim foi trabalhoso, mas, mas a opção por Carolina Pavaneli, de apenas 6 anos – parece ter sido acertada.  Com problemas de iluminação nos cenários, os primeiros capítulos tiveram que ser regravados. Mas nada que atrapalhasse o ritmo das gravações. Uma nova viagem já está marcada para Curitiba no final do mês, para onde a equipe pretende seguir com regularidade.

A novela marca a volta de algumas artistas que estavam afastadas há um bom tempo do vídeo, como Débora Duarte, Isabela Garcia e Cláudia Magno. Além de Eri Johnson, que retorna depois de ter sido demitido da Rede Globo, em março por participar da campanha pelo parlamentarismo. O que se pode esperar desse novo remake (fusão de “Ídolo de pano”, de Teixeira Filho e “A pequena órfã”, de Carmem Lídia) é um melodrama típico.

O mocinho veste a capa do mal

Pela primeira vez em novelas, Fábio Assunção não interpretará o bom-moço da história. O ator não chega a dizer que seu personagem, o médico Jorge Candeias de Sá, é um vilão, mas bem que se aproxima muito disso.  Como qualificar um homem que dá remédios para dopar a própria avó, rouba a namorada do irmão e tenta tirar dele, por baixo dos panos, a presidência da fábrica de brinquedos da família?

– O Jorge tem atitudes positivas e negativas. Ele tem esse lado ambicioso, de ser fascinado pelo poder, e, por ser um gênio da medicina, é um cara muito racional, que se afasta das emoções.  Como todo gênio, ele se autodirige, só que para o egoísmo. Mas ele também se dedica totalmente à clínica e atende a todos com a maior atenção. Faz até operação de graça – conta Fábio.

Jorge vai mostrar seu mau caratismo nos primeiros capítulos de “Sonho meu”. Ele se alia a Guerra (Walmor Chagas), o médico da família, para deixar a avó Paula (Beatriz Segall) de cama, e a William (Jayme Periard), para afastá-la o maior tempo possível da empresa. Juntos, os três tentarão induzir a matriarca a  acreditar que Lucas (Leonardo Vieira) é um irresponsável – o que em parte, é verdade – e que não tem capacidade de assumir a fábrica, como deseja a avó.

– Ele ouve atrás da porta, tem seus dois comparsas e pode-se dizer que pratica os crimes típicos de “colarinho branco”. Quando o assunto é poder, ele se transforma e é capaz de chegar às últimas conseqüências. Para mim, o Jorge é como um jogador de xadrez, hábil, ou um bispo de jogo, que anda meio torto. Ele é frio o tempo todo.

O esperado retorno do galã

Enquanto esperava a hora de gravar, Leonardo Vieira viu o anúncio da chamada de “Sonho meu” na televisão e correu para aumentar o som. Frustrado, ele constata que não aparecera naquela chamada e comenta com Patrícia França que ainda não se viu como Lucas na TV. A ansiedade se explica – afinal, é seu segundo papel em novelas e o primeiro que ele vai protagonizar do início ao fim, ao contrário de “Renascer”.

Um dos conselhos que vai aproximar nessa empreitada é o de Antônio Fagundes, que disse para escolher determinadas cenas que devem ser  interpretadas com intensidade. O resto, flui com mais leveza. Assim, ele poderá levar uma novela inteira, em média com oito meses, sem perder o fio da meada.

– Eu fui muito intenso com o coronelzinho, mesmo porque foram só quatro capítulos, e só sabia fazer assim.  Em “Sonho meu”, eu estou escolhendo as que devo interpretar com muita intensidade, como aquela em que ele vai atrás da Cláudia no apartamento dela depois de ter levado um fora. Eu quase botei a porta abaixo – comenta.

A repetição do par romântico com Patrícia não significa que o caso de amor dos dois será igual ao de Santinha e José Inocêncio.  E Leonardo teme que o público faça essa cobrança e espere uma paixão tão profunda como a que protagonizou em “Renascer”, mas reconhece que a força do sucesso anterior os uniu novamente.

A escolha entre o belo e a fera

É triângulo amoroso para ninguém colocar defeito, De um lado, Cláudia terá os belos olhos azuis de Jorge; de outro, o sorriso “matador” de Lucas. Ela gosta mesmo do segundo, mas vai se casar com o irmão dele, o primeiro. E aí, formará um quadrilátero nada romântico, porque seu primeiro marido, Geraldo (José de Abreu), vai voltar para perguntar que história é essa de bigamia.

Na realidade, Cláudia não é tão ingênua quanto parece e sempre sonhou com dinheiro e status. Ela largou Geraldo muito jovem e decidiu se casar de novo com um homem rico para poder recuperar a filha, a pequena órfã Carolina.(Carolina Pavaneli), que também foi obrigada a abandonar. A cunhada descobrirá o que ela fez e vai chantageá-la.

– A Cláudia gosta mesmo do Lucas, e ele corresponde, mas ela vai se casar com o Jorge porque não quer expor o Lucas a uma situação complicada como a dela. Ele despista o Lucas para não ter que contar a verdade para ele, falar de sua bigamia. Por isso, ela vai entrar no jogo do Jorge e fingir que está apaixonada por ele. A Cláudia vive eternamente em conflito e está sempre se reerguendo. Ela luta com ela mesma – conta Patrícia.

Para compor a Cláudia, sua primeira personagem urbana, Patrícia atenuou seu sotaque nordestino e alisou os cabelos, para apagar a forte imagem de Maria Santa de “Renascer”. Quando precisar voltar à novela de Benedito Ruy Barbosa, como está previsto na morte de José Inocêncio (Antônio Fagundes), ela terá que ficar apenas uma semana sem mexer nos cabelos para que eles voltem a ondular.

 

Rede de intrigas e mistérios

Cláudia manterá a bigamia por causa da filha

Em poucas linhas, a história principal de “Sonho meu” é a seguinte: Cláudia, mulher bonita de classe média baixa, foge do marido violento abandonando a filha pequena. Anos depois, casa-se com Jorge, entrando para uma das mais poderosas e conflituadas famílias da sociedade curitibana. O primeiro marido reaparece com a filha e ela passa a viver situação dupla.

Cláudia vai manter sua bigamia até quando for possível, mas não será a única personagem a guardar segredos. A matriarca Paula Candeias de Sá esconde de Jorge seu passado, pois, na realidade, ele não é seu neto. Vinte anos antes, ela perdera o filho e a nora num desastre de avião na França. Lucas, ainda bebê, sobreviveu ao acidente, mas Jorge morreu. Paula o substituiu por outra criança, doada por uma mulher pobre, Mariana (Débora Duarte), que reaparece ameaçadoramente no início da novela.

Mariana tentar obrigar Paula a contar a verdade para Jorge, mas diante de suas negativas, a mãe resolve procurar o filho por conta própria. Ela aparece na sua clínica e o rapaz percebe que há algo estranho. Jorge faz dois exames de sangue, o seu e o de Mariana, e comprova que ela é sua verdadeira mãe. Só que, para ele não vai interessar revelar à avó adotiva que descobriu tudo. Por isso, continuará quieto.

Ainda na trama principal da novela, a pequena Carolina vai enfrentar o autoritarismo da tia Elisa (Nívea Maria) – que chega a mandá-la para um orfanato – e a tristeza por não conhecer a mãe. Mas isso não quer dizer que ela será uma menina solitária. Esperta e levada, ela comanda as brincadeiras na rua com seus amiguinhos e passa a ser o xodó do velho Tio Zé (Elias Gleiser), um imigrante polonês.

Entre as histórias paralelas,   está a do divertido casal Guerra (Walmor Chagadas) e Magnólia (Yoná Magalhães) que, para justificar o sobrenome, estão sempre brigando. Ela é uma típica perua, ingênua e que só pensa em consumir.  Pelo simples prazer de implicar com o marido, veste roupas leves quando a temperatura está abaixo de zero e reclama do frio quando ele pega seu chinelo e a deixa descalça, o que acaba sempre acontecendo.

Fora de casa, o médico Guerra é frio e ambicioso, como seu colega Jorge. Carreirista e obcecado por dinheiro e poder, faz questão de manter a aparência de um homem de bem, acima de qualquer suspeita. Assim, freqüenta a casa dos Candeias de Sá, e Paula o considera um grande amigo.

A clínica onde Jorge trabalha pertence a Fontana (Flávio Galvão), médico que destoa dos outros dois e se dedica integralmente aos doentes. A novela vai aproveitar o tema da medicina para mostrar o tratamento pela musicoterapia. Carolina tem uma doença grave e vai tentar se curar através de acordes do violão.