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Crítica: Corajosa e inteligente, série Plano Alto leva clamor das ruas para a televisão

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Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Os palácios onde habitam os governantes parecem distantes dos interesses reais do povo. Não foi à toa que, em junho de 2013, o Brasil viu uma multidão invadir as ruas do País de forma inesperada, cansada diante de tanta retórica e pouca ação.

A comoção popular chegou rapidamente à arte. No teatro, Zé Celso, diretor do Teat(r)o Oficina, foi um dos pioneiros em integrar o grito das manifestações às novas peças da série Cacilda, misturando 1968 aos tempos atuais. O grupo teatral Os Satyros fez o mesmo, ao levar os protestos para a peça Édipo na Praça. Mas o teatro não está mais sozinho.

A nova série da Record, Plano Alto, escrita por Marcílio Moraes e dirigida por Ivan Zettel, com Leonardo Miranda e Nádia Bambirra, estreou nesta terça (30) com coragem e inteligência para se enfileirar no combate. E com uma vantagem em relação ao teatro: conta com o poder televisivo de alcance para seu discurso.

Mesmo partido do pressuposto de uma obra de ficção, Moraes expõe com verdade o submundo político nacional, repleto de sanguessugas que assolam a Nação. O Congresso Nacional, ao fundo, na janela do cenário onde algumas das tramoias são armadas em Brasília, é um claro recado.

Com uma dramaturgia engajada e cenas impecáveis tecnicamente, a série ainda mostra seu zelo ao contar com uma trilha sonora de peso, que recupera Geraldo Vandré em nova roupagem e ainda dá fôlego novo a Gonzaguinha ecoando sobre imagens de um Rio tão sofrido.

Plano Alto discute o País e vem para fazer companhia a produtos históricos da teledramaturgia nacional, como a novela Vale Tudo ou à minissérie Anos Rebeldes.

É salutar a estreia de Plano Alto na mesma semana em que o País viu boquiaberto um candidato ao posto de Presidente da República expor seu desprezo e ódio por uma minoria, contrariando a ética do próprio cargo que deseja ocupar.

É preciso valorizar a democracia de fato, o respeito ao povo, à diversidade, ao ser humano. E expurgar os conchavos que dão espaço a gente que só quer encher o bolso de dinheiro dos cofres públicos para proferir sandices, iludindo alguns com discurso, enquanto aproveitam para roubar mais.

Um país que criminaliza professores em greve ou mesmo sem tetos que buscam moradias dignas em prédios abandonados precisa mesmo ser sacudido, ser discutido. E Plano Alto faz isso sem temor. Os políticos não podem mais permanecer, tal qual diz o nome da série, neste plano onipotente e distante da população. É preciso obrigá-los a colocar outra vez os pés no chão.

R7_Daniela Galli