Preparando um projeto sobre Thomas Mann, reencontro, e mais uma vez me extasio, a delicada e magistral ironia do mestre. Em “As cabeças trocadas”, ele mergulha nas origens míticas da Índia e reconta a lenda de Sita, “a despertada para o amor”. Narrativa primorosa, trabalho de linguagem sutilíssimo de um ocidental sobre o imaginário oriental. Vejam como ele apresenta a amizade entre os dois personagens (na tradução de Herbert Caro): “… a encarnação cria a individualização; a individualização causa diversidade; a diversidade provoca a comparação; da comparação nasce a inquietude; a inquietude origina o assombro; do assombro provém a admiração; e esta, finalmente, produz o desejo de troca e união…”