Em viagem pela Alemanha, nas últimas semanas, passei por Nuremberg e visitei a tribuna do estádio onde os nazistas costumavam fazer suas celebrações. A “Reichsparteitagsgelaende Zeppelinfeld Tribuene”, como era chamada aquela tribuna, ainda está lá, inteirinha. Parece que ninguém se animou a demoli-la, ou dar-lhe alguma destinação. Pelo que observei, permanece ali como testemunho silencioso das bandeiras, dos uniformes, das marchas e das aclamações que outrora incandesciam todo um povo fadado à tragédia. Agora, o “espírito alemão”, tal como o concebiam Hitler e Goebbels, já não paira por ali. Além de mim e de um amigo judeu, apenas oito pessoas mais circulavam pelas arquibancadas melancólicas: dois casais de japoneses, três enigmáticos rapazes silenciosos sentados, com olhar vago, e um garotinho lá embaixo, patinando onde a multidão de fanáticos desfilava nos tempos do delírio. A porta lá em cima, aí na foto, não se abriu para o anunciado “Reich de mil anos”. Atrás dela, quem sabe, se possa descobrir “a matéria de que os sonhos são feitos”.