O título da matéria do UOL é sugestivo: “MODELO DA NETFLIX NO BRASIL AFUGENTA AUTORES E IRRITA CÚPULA AMERICANA” (link abaixo). Deve ser lida por quem é do meio, porque coloca a questão, mais importante quando se fala de produção audiovisual: a autoria.
A TV Globo deu certo porque apostou nos autores, desde o início. Foi com a dramaturgia que a Globo impediu que a televisão brasileira fosse ocupada pelo que, na época, se chamava de “enlatados americanos”, ou seja, as séries americanas, e se tornou uma potência. E como é que a Globo conseguiu uma dramaturgia forte? Antes de tudo, respeitando a autoria, valorizando os autores-roteiristas. Foram os escritores, através principalmente das telenovelas, mas também de outros formatos, que sustentaram o dito império global.
Então é muito preocupante ver o mercado audiovisual brasileiro de hoje desvalorizar a autoria (não acontece só na Netflix). Não vai conseguir resultados expressivos assim. Não importa se é seriado, se é novela, se é filme, se tem dez ou cem capítulos, se não houver autores, com toda a autonomia necessária, escrevendo os roteiros, não vai funcionar.
No meu caso, as sondagens que fiz no mercado atual me levaram a desistir. Depois de 40 anos escrevendo para a Tv, constatei que não há lugar para mim nas ditas plataformas. Como também já tinha chutado o balde com as tvs abertas, resolvi partir para outra, ou melhor, voltar para o começo: a literatura. Escrevo romances e contos, em que não tenho que aguentar a interferência de ninguém.
E mato a bola seis.
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