A Turquia e o cu de Lucrécia

 

jordaens

Vendo hoje a foto do Erdogan, presidente da Turquia, e sua mulher, Emine, lembrei-me do maravilhoso romance “O Elogio da Madrasta” (quem não leu vá correndo comprar o livro). Nele, o mestre Vargas Llosa conta a história do rei da Lídia (país que existiu séculos atrás no território onde hoje é a Turquia). O maior orgulho de Candaules, como se chamava o monarca, não eram suas batalhas, nem suas caçadas, nem mesmo suas riquezas, era o que ele chamava a “garupa” da sua mulher, Lucrécia.

“Garupa” porque, segundo ele, era mais que bunda, mais que nádegas, mais que rabo. “Cavalgá-la”, nos termos do soberano, ou seja, conseguir penetrá-la, era o feito maior de que ele se envaidecia. Certa vez, bêbado, mandou que seu escravo mais bem dotado, cavalgasse a rainha. Talvez intimidado ou por falta de aparelhamento suficiente, o serviçal não conseguiu dar conta do desafio, o que agradou o sacana do rei. Mais tarde, como a lembrança do fato constrangesse a mulher, Candaules mandou decapitar o infeliz.

Certa vez, tendo seu ministro se gabado da magnífica bunda da escrava que havia adquirido, o rei lançou-lhe um desafio. Primeiro foram ver o traseiro da serva egípcia. O monarca reconheceu-lhe os altos méritos, mas disse ao ministro: espere para ver. À noite, para não constranger a esposa uma vez mais, escondeu o auxiliar atrás das cortinas. Dali, maravilhado, ele pôde apreciar os dotes excepcionais da rainha Lucrécia. (A cena foi retratada pelo pintor Jordaens. A tela, que reproduzo, pode ser vista no Museu Nacional de Estocolmo).

Aí vocês perguntam: o que tem isso a ver com o golpe na Turquia? Nada. Apenas me lembrei da história, sem querer insinuar que a bela Emine possa ser a moderna Lucrécia  para o “sultão” Erdogan.