No texto que postei ontem, falei em “linguagem brechtiana” a propósito de “O Amor e a Morte”. Depois percebi o quão imprecisa foi essa afirmação. Por isso, volto ao tema. Minha primeira ideia para o especial era mesmo bastante brechtiana,tudo se passando no espaço aberto do estúdio, ao estilo de “Dogville”, sem propósitos didáticos, no entanto. Depois recuei. Mantive a construção épica mas deixando as cenas mergulharem no tom dramático, ou seja, transportando o espectador para dentro da ação, e não contrapondo o espectador a ela, como gostava Brecht. Ao mesmo tempo seguindo os preceitos dele, Brecht, no sentido de deixar explícitos os recursos narrativos, no caso, a própria estrutura física do estúdio.
Não sei em que medida foi uma profanação juntar Thomas Mann com Brecht. Filosófica, artística e politicamente, eles tinham posições bem diferentes. Só para dar um exemplo, durante a guerra, os dois exilados nos Estados Unidos, divergiam ferozmente sobre o final do confronto. Brecht defendia que os Aliados deviam aceitar alguma negociação, a fim de evitar o esfacelamento total da Alemanha. Já Thomas Mann achava que a guerra tinha que ser levada até o último combatente, para garantir que o nazismo jamais pudesse florescer outra vez. Terminado o conflito, Brecht foi viver na Alemanha Oriental, comunista. Mann, desiludido com o fato de, mesmo nos momentos finais, o povo alemão não ter se rebelado contra Hitler, decidiu ficar nos Estados Unidos. Mas tarde, foi morar na Suíça, onde morreu, em 1955.