Lendo sobre os Black Blocs, me dei conta de que o Bóris, personagem da minha novela “Vidas Opostas”, de 2007, tem parentesco direto com esse movimento anarquista. Senão, vejamos. Fugido da ditadura brasileira, Boris engajou-se nas Brigadas Vermelhas, grupo revolucionário radical italiano, tendo matado um policial, o que lhe valeu severa condenação. Mas conseguiu fugir e, desde então, vivia clandestinamente, até voltar ao Brasil em busca do grande amor da sua vida, Ísis.
Em um artigo muito citado, o anarquista Daniel Dylan Young explica que a origem remota dos Black Blocs é exatamente o movimento radical italiano da década de 70, cuja grande novidade era não ter ligação com a esquerda partidária e cujo feito mais rumoroso foi o assassinato do primeiro ministro Aldo Moro.
É este vínculo que me permite afirmar a relação paternal do meu personagem com a moçada de preto que anda a assustar as consciências delicadas no Brasil de hoje. Na novela, Bóris termina participando da batalha da comunidade favelada contra os policias e os traficantes que a oprimiam. Era ou não era um anarquista de primeira linha?
Pena que na época em que a novela foi ao ar, não havia a efervescência política dos dias de hoje. Espero que a rapaziada não deixe a chapa esfriar até minha volta à telinha. Infelizmente, não há hoje nenhuma trama com um mínimo de conteúdo político sendo exibida.