Pulp fiction na terrinha

Remexendo as estantes, encontrei um dos bang-bangs que eu escrevia, na década de setenta, sob o pseudônimo de Clint Reagan, para fazer uns trocados. Vejam a sugestiva capa. A maior parte dos livros, vendidos em bancas de jornal, era traduzida, mas a editora também concedia publicar originais, desde que, claro, estivessem nos padrões do western. Se não me falha a memória, a grana era praticamente a mesma, para traduzir ou inventar.

Eu preferia criar uma história original. Tinha a maior facilidade em escrever esses livrinhos. Conhecia perfeitamente o gênero, não só dos filmes que, desde a infância, assistia, época áurea do Far West, como pela literatura. Quanto tinha uns 12, 13 anos lia muito um americano chamado Max Brand. Já que estou em sessão nostalgia, fui conferir o site dele e lá está: “The world’s most celebrated Western writer”. E, mais interessante: “Max Brand is the Shakespeare of the Western range”.

Agora vejam a coincidência, ou será influência? Ha, aha, ha!!! Mesmo sem saber das qualidades literárias do meu autor de adolescente, me inspirei em Hamlet para escrever esse “Sangrento Amanhecer”. O cowboy voltava à cidadezinha para se vingar do padrasto, que havia se apoderado das terras do seu pai e casado com sua mãe. Outro dia assisti na internet o trailer fake de um Hamlet estrelado pelo Shwarzenegger, chamado “Hamlet is back”, com o adendo: “and he is not happy”. Comentei: já fiz algo bem parecido, quarenta anos atrás. Ha, ha, ha!!!

Curioso que houvesse esse mercado de literatura popular, com um gênero importado. Nossa pulp fiction vinha de fora. Se você tentasse escrever um livrinho desses com histórias brasileiras, não conseguiria publicar. Também seria difícil descobrir o tipo de história nacional que se adaptaria. Acho que a única tradição disponível seria o cangaço, que não creio que se prestasse a esse tipo de ficção. Quem sabe não vem daí uma das deficiências básicas do nosso cinema…

O caso é que eu me divertia. Hoje, quando algum aspirante a escritor vem me pedir uma chance nas novelas, eu costumo dizer: se você quer mesmo escrever, tem mil maneiras de começar. Basta imaginação.

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