Outro dia revi, no Canal Viva, um capítulo de “Sonho Meu”, agora já na segunda fase. Fiquei triste e me voltou o sentimento de revolta com a interferência estúpida que a novela sofreu. Já contei várias vezes, mas sempre é bom repetir. Os figurões da Globo naquela época vieram com o papo de que a emissora estava recebendo cartas de protesto dos espectadores contra a bigamia da personagem Cláudia (Patrícia França). Nunca mostraram as tais cartas, certamente a opinião de meia dúzia de carolas, coisa absolutamente irrelevante. A “mulher não pode mentir para o homem que ama”, argumentaram os bambambãs… ahahahahahahahah. Papo de machão corno, é ou não é? O pior é que o Lauro, supervisor da novela, entrou no papo deles, ficou do lado dos mandachuvas e a interferência – violência, melhor dizendo – se consumou. O resultado pode ser visto nesta segunda fase da novela, atualmente no ar no Canal Viva. Aquela força da história, aquela vitalidade dramática da protagonista, enfrentando Deus e o mundo para preservar sua dignidade de mulher e salvar a filha, se perdeu. A trama se tornou quase um vaudeville de intriguinhas típicas de novelinha das seis, tudo o que tentei evitar ao conceber a sinopse e desenvolver os capítulos. Imagino o quanto deve ter sido difícil para a atriz continuar desempenhando a personagem, depois de totalmente esvaziada. Para mim, também foi duríssimo.
Nos tempos atuais, em que vejo se generalizar a tendência de enfraquecer a autoria em favor do poder cada vez maior dos executivos, deixo este relato que mostra o quanto perde a dramaturgia quando se ameaça a autonomia do autor. Ver menos