Outro dia postei foto minha na Plaza de Toros de la Real Maestranza de Caballeria de Sevilha. Era apenas visita turística, já que há mais de 20 anos não assisto uma “corrida”. Quando jovem, fui a muitos “toreos”. Lembro de um em que estava presente o famigerado Generalíssimo Franco lá em cima na tribuna de honra (sombra, por supuesto), para ver o quanto estou velho. Naqueles tempos, o espetáculo me fascinava pelo que trazia da tradição sangrenta da Espanha, pela beleza plástica e pela tragicidade (sem falar no Hemingway). Encarava a morte do touro como parte do todo, sem maiores sentimentalismos.
Atualmente, há um forte movimento contra as touradas, tidas como costume bárbaro. O argumento me toca, porque a crueldade com animais me é absolutamente insuportável. No entanto, no que se refere a este aspecto, as touradas colocam questões bem mais complexas.
Os defensores das corridas esclarecem que o touro destinado à arena é um privilegiado, desfruta de um status que bilhões de outros animais da sua espécie não podem sequer sonhar. Antes de tudo, não são castrados, como os demais. São extremamente bem alimentados, vivem em liberdade e morrem dignamente, em batalha (e ainda têm a chance de espetar o chifre na virilha de uns e outros, o que geralmente é fatal). Uma vida de conforto em troca de um dia de luta e sacrifício, como guerreiros.
De outro lado, se considerarmos a crueldade inominável com que há milênios o homem trata os animais, encarcerando-os brutalmente, marcando-os a ferro em brasa, castrando-os, escravizando-os sem piedade, submetendo-os a indignidades repugnantes, para no final abatê-los de forma vil, o destino dos touros de tourada, se lhes fosse dada escolha, seria bem mais atraente. Ou não?
Hoje em dia, não tenho mais coragem de ir a touradas. E me questiono severamente se isto significa que me tornei um pouco melhor ou apenas mais piegas. Entre assistir um príncipe ser morto, ainda que covardemente, no campo de batalha, e comer uma picanha (ou um “rabo de toro”, rabada) no restaurante, o que será mais humano ou politicamente mais correto?