Mandala
Um rosto para Jocasta
Francisco Cuoco, como Paulo Della Santa/Denizard em “O outro”, tem os seus dias contados. Em outubro uma mulher tomará o seu lugar como protagonista do horário nobre: Jocasta. Para viver essa personagem, três nomes estão cogitados pela TV Globo, segundo Dias Gomes, o autor da nova novela, “Mandala”. A ativista política poderá ser encarnada por Dina Sfat, Vera Fischer ou Irene Ravache. Para o papel do renegado Édipo foi escolhido Felipe Camargo, o Felipe de “Roda de Fogo”. Mais três nomes já estão certos: Paulo Gracindo, que viverá Pepê, o avô de Jocasta, um velhinho quase gagá, um anarquista que lutou na Guerra da Espanha; Gianfrancesco Guarniere (Túlio, um comunista), Nicete Bruno (Ceres), que serão os pais de Jocasta. E o do diretor da novela, que será Cecil Thiré.
O elenco deverá ser definido até o fim do mês, mas enquanto isso, os nomes borbulham. A princípio, para interpretar Jocasta, havia sido convidada a ex-namoradinha do Brasil, Regina Duarte. Segundo Dias Gomes, ela não poderá aceitar o papel por estar às voltas com um filme produzido pelo marido. O autor disse gostar das outras opções: Dina, Vera e Irene, mas não consegue esconder a preferência por Dina Sfat, que já interpretou diversos personagens criados por Janete Clair e pelo próprio Dias. A atriz ainda não recebeu o convite oficialmente, mas adianta que não deverá aceitá-lo. Dina Sfat tem com a Globo o compromisso de só começar a trabalhar a partir de janeiro. Antes disso, estará ocupada com as filmagens de “Casa grande e senzala”, que será dirigido por Joaquim Pedro, e “O judeu”, cujo diretor será Jom Tob Azulay.
– Fico muito contente por terem pensado no meu nome. Adoraria voltar a interpretar um personagem do Dias. É sempre uma boa idéia, porque todos os que fiz tiveram uma dosagem de interpretação muito forte. Embora já tenha alguns compromissos, não descarto a possibilidade de conversar sobre o assunto. Mas prefiro não estimular discussões calcadas em hipóteses, principalmente para não criar um clima de competição – disse Dina Sfat, que trabalhou pela última vez em televisão na novela “Eu prometo”, que também foi a última escrita por Janete Clair antes de sua morte.
Em São Paulo, Irene Ravache admitiu ter sido procurada pela Globo: “Recebi recados de que o Roberto Talma e o Cécil Thiré haviam ligado, mas eu estava viajando e ainda não consegui falar com eles. A novela é uma comédia?”, a pergunta, seguida de risinhos, foi explicada:
– Pelo que sei, é baseada na história de “Édipo Rei”, que não dá para ser uma comédia. Embora o Dias saiba trabalhar o humor muito bem em qualquer contexto, hoje, acho difícil fazer uma novela a sério na televisão. Até porque o veículo acaba não tocando no assunto para valer. Por isso, prefiro uma comédia – disse Ravache, prometendo entrar em contato com a Globo.
Ao contrário de Sfat e Ravache, Vera Fischer dá pistas certas, que levam a crer ser ela a atriz que emprestará seu corpo à Jocasta durante seis meses – o tempo que uma novela costuma ficar no ar. Vera, de 35 anos, está entusiasmada com a possibilidade de interpretar a mãe de Édipo e, há um mês esteve negociando a sua participação na novela com Daniel Filho, um dos diretores da Globo. Nos últimos dias, tem estado em contacto permanente com Roberto Talma, produtor de “Mandala”. Vera Fischer está há seis anos longe da TV. O último papel que representou no vídeo foi Luísa, na novela “Brilhante”, de Gilberto Braga.
– Na época, estava há cinco anos fazendo TV e sentia necessidade de me dedicar ao teatro, área que até então desconhecia. Fiquei três anos em cartaz com a peça “Negócios de Estado”, mas agora a vontade de voltar a fazer televisão é muito grande. Quero fazer um bom trabalho, ganhar bem e ter o respeito das pessoas com quem conviverei. Já fui convidada para o papel, mas ainda não há nada confirmado.
A atriz está fascinada com a sinopse de “Mandala” e ansiosa com o fato de representar o papel de mãe de um homem adulto.
– A relação mãe e filho, em vários níveis, é um tema que incomoda muito as pessoas. Será um desafio. Mas, se for mesmo fazer Jocasta, me esforçarei o máximo para realizar um belo trabalho.
Vera, embora nunca tenha lido a tragédia de Sófocles, conhece a história. Ela garante que ainda não se vê na pele de Jocasta.
– Não tenho o hábito de fazer laboratório. Sou uma atriz movida pelos impulsos do diretor. Mas, representar Jocasta, uma mulher com características fortes, deve ser superinteressante. Ainda se escreve muito para os homens. São poucos os bons papéis para as mulheres.
Baseada na peça “Édipo Rei”, de Sófocles – cuja história é encenada há 25 séculos depois de ter sido criada na Grécia, no século V antes de Cristo -, “Mandala” começa em 1961.
O cenário escolhido é o Rio de Janeiro. O país passa por um momento político difícil, conturbada pela crise política. É o dia da renúncia do Presidente Jânio Quadros. Um período importante culturalmente: surge a “bossa nova” e a dramaturgia nacional começa a ganhar os seus contornos.
Jocasta, de 19 anos, estudante da PUC, é uma militante de lutas estudantis, uma agitadora. Namora Laio, de 25, estudante de psicologia. Fica grávida e se recusa a abortar, mas também não cria a criança. O menino fica aos cuidados de uma família de outro Estado. A trama da novela começa a ser delineada quando Jocasta, 25 anos depois, se apaixona por Édipo, nome dado ao menino pela família adotiva.
Os 15 primeiros capítulos de “Mandala” ficaram prontos sexta-feira passada. Apenas os 36 primeiros serão escritos por Dias Gomes; o resto ficará a cargo de Marcílio de Morais, um dos autores de “Roda de Fogo”, que também está escrevendo o especial para “A grande família”, o seriado antológico de Vianinha. O autor explica por que não escreverá a novela até o fim:
– Já estou ficando velho e, de mais a mais acredito já ter dado a minha contribuição à televisão brasileira. Não dá mais para ficar seis meses preso à máquina de escrever. Achei, juntamente com a direção da Globo, que o Marcílio seria a pessoas mais indicada para continuar a novela que, aliás, ele já está acompanhando.