O AMOR E A MORTE

/ 2014

A proposta era um especial de fim de ano baseado em obra literária. Como em 2013 comemoravam-se os 150 anos da presença alemã no Brasil, veio a ideia de pegar um autor alemão. Achei ótimo, seria uma oportunidade de homenagear parte dos meus antepassados. Minha bisavó era alemã, das primeiras levas de colonos.

Cheguei a pensar em Shiller e depois em Brecht, mas acabamos nos fixando em Thomas Mann, autor por quem tenho profunda admiração, desde a juventude. E havia uma razão adicional para a escolha, além da literária. A mãe dele, Júlia Mann, era brasileira, filha de uma portuguesa e de um alemão, nascida na histórica Parati, no Estado do Rio, e levada com cinco anos para a Alemanha. Nunca mais voltou ao Brasil. Mais tarde, costumava contar histórias das terras quentes e longínquas onde tinha nascido para os filhos.

Adaptar qualquer obra Thomas Mann para um especial de TV de 50 minutos é um desafio e tanto. Pensei em alguns trabalhos de menor porte – tamanho, não porte intelectual, claro – como “Duas Cabeças” ou “Mário e o Mágico”. Mesmo essas exigiriam produção incompatível com os recursos disponíveis. Acabei optando pela junção de alguns contos da juventude de Mann: “A Morte”, “Desejo de Felicidade”, “A Queda” e “Anedota”.
Recorri às técnicas do velho Bertolt Brecht, numa espécie de heresia artística, já que este e o velho Mann tinham visões opostas, estéticas e políticas. A ação se passa num palco onde alguns amigos se encontram e contam histórias de amor e morte. Mantive uma construção épica, mas deixando as cenas mergulharem em um tom dramático, transportando o telespectador para dentro da ação e não contrapondo o telespectador a ela. Como fazia Brecht.

O elenco, Adriana Garambone, Floriano Peixoto, Giuseppe Oristânio, Thelmo Fernandes, Gabriel Gracindo e Janaína Ávila, com a direção do Marco Altberg, foi a garantia da qualidade do programa, que resultou bem instigante.
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