Plano Alto

/ 2014

O desafio que me impus em “Plano Alto” era escrever uma série política, na expressão pura da palavra. Assunto político, tema político, personagens políticos. Mas sem nenhum partidarismo ou ponto de vista ideológico. Quis elaborar uma série dialética, no sentido amplo do termo, ou seja, um trabalho edificado sobre as contradições que movimentam a atividade política no Brasil.

Decidi tomar como base, não o poder, como seria mais natural, mas a contestação ao poder. Peguei então três gerações de contestadores: a da década de sessenta, que fez a luta armada; a da década de noventa, que destituiu um presidente; e a atual, configurada nos chamados Black blocs. As três reunidas numa mesma família: avô, filho e neto.

O primeiro a se surpreender com o resultado fui eu mesmo. Quando comecei a escrever, verifiquei que as ideias se encaixavam perfeitamente, que a dramaticidade das situações fluía sem dificuldade, que os personagens tomavam vida quase por si próprios. Os diálogos e em especial os discursos vinham como por inspiração celestial.

Neste particular, dei vazão a um fascínio da infância: a oratória. Tímido que sou, falar em público sempre foi um enorme sacrifício. Talvez daí a facilidade e o prazer com que trabalhei a retórica dos políticos, meus personagens. Difícil segurar os discursos dentro de um tamanho aceitável, porque minha tendência era alargá-los como se fosse mesmo uma tribuna e não obra de ficção.

Vamos ver se a segunda temporada sai. Tenho guardadas grandes surpresas.

https://www.youtube.com/watch?v=yu7FmQM-hRs